Esta é uma história de pessoas comuns, a fazer coisas extraordinárias.
Infelizmente não é nova esta triste realidade de quem não tem onde viver. É uma situação dramática, agravada pelo Estado de Emergência.
É no mínimo uma chapada na cara, quando nos pedem para ficar em casa e todos sabemos, que nem todos, temos casa.
A Hope surgiu com esta epidemia. Perante uma situação crítica e de urgência, um grupo de pessoas decidiu abdicar do seu tempo, da sua energia e recursos para investir em aliviar o drama de quem vive todas as noites em sítios diferentes.
Em poucas semanas conseguiram um batalhão de voluntários, uma porção de bens essências e acima de tudo uma montanha de Humanitarismo. Há neste projecto uma corrente de bondade muito especial, é uma iniciativa que está a crescer a olhos vistos e isso deve-se a um factor principal: honestidade.
Um dia na Hope começa com a recolha de bens na cidade do Porto. Mas também há quem leve as ajuda directamente às instalações da Hope. Neste dia da reportagem a empresa Nortela levou uma carrinha cheia de águas e sumos e frescos para as sandes!
Na recolha pela cidade, a Hope conta com o apoio de diferentes pessoas e empresas: Naquele dia, fiz a recolha com o Martinho e fomos à Frutaria 4 Caminhos em Vila nova de Gaia, encontrámos-nos com o dono do restaurante Yuko, depois fomos ter com o amigo Pedro e regressámos à Escola de Futebol de Matosinhos. Entre mercearia, produtos frescos e pão, o carro vinha cheio.
Cheio de bens e de esperanças.
Já na escola, começam a chegar os voluntários. Todos eles com sacos de ajudas. A magia acontece em todos os passos destas pessoas, mas ver aquele momento em que várias pessoas se encontram num local, de mãos cheias e de corações abertos, todos na mesma missão... há algo de muito poderoso nisso.
Organizam-se equipas, prepara-se a cozinha. Corta-se, lava-se e organiza-se tudo. Na secção da roupa, a Hope já sabe quem está à espera do quê. Naquele dia ouvi muito perguntar pelo casaco. Havia um casaco que era muito urgente levar nessa noite. Eles levaram o casaco.
Ao mesmo tempo, são preparados kits de apoio a famílias que agora estão a passar uma fase mais difícil e contactam a Hope na esperança de receber ajuda. A Hope não tem falhado e tem conseguido fazer chegar a estas famílias kits com bens essenciais para todas as idades.
Pelas 19h tudo deve estar pronto e começam a sair para a cidade. Nessa noite a Hope passou nos Aliados, na Batalha e na Boavista.
Quando chegámos aos Aliados estavam outras almas caridosas a dar sopa quente. Quando fomos à Batalha, vimos também outra carrinha a dar comida quente. Na Boavista não estava mais ninguém. A comida da Hope não chegou. Os corações ficaram apertados. Tanto de quem ajudou como de quem precisava de ajuda.
Não é fácil lutar tanto e no fim sentir que não se conseguiu vencer.
Que a Hope saiba, que todos os dias, conseguem sim, vencer.
Que todas aquelas pessoas anónimas que vi naquele dia saibam, que sim estão a vencer e que todos somos gratos pelos esforços que fazem em representar uma sociedade solidária.
No fim do dia, antes de deixar o Martinho, frustrada por saber que se lida com um problema complexo na sua resolução e feliz por ver tanta gente boa a tomar ação, houve algo que me pareceu um recurso em falta: uma aplicação que permita a esta boa gente potencializar os esforços e recursos que todos os dias fazem.
Uma aplicação com um registo simples, um perfil onde se conheça a equipa e que nos mostre um mapa e calendário, bem como o tipo de apoio (comida quente, fria ou roupa) que vai passar em cada local da cidade, naquele dia/semana.
À Hope, a todos aqueles anónimos que saem à rua para ajudar e a todos aqueles que contribuem conforme podem para ajudar quem ajuda: todos vocês nos tornam uma sociedade melhor, obrigada e bem haja pelo vosso esforço.
#fotojornalismo #hopeporto #photojornalism #fotografoporto #semabrigoporto